Corpo Sororo
*Citação direta de: BALDAN, L. A imagem no fim. Tese (Doutorado em Artes) – Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais. Área de Concentração: Linguagens Visuais) – Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 253 p., 2020.
** Texto editado a partir da compilação de relatos de Amanda Bonan, Ana Dalloz, Bianca Tomaselli, Caroline Valansi, Cecilia Cavalieri, Chiara Banfi, Clara Cavour, Duda Moraes, Glaucia Mayer, Lais Myrrha, Laura Erber, Louise Botkay, Luiza Baldan, Keyna Eleison, Mara Pereira, Maria Baigur, Maria Borba, Natália Quinderé e Paula Huven.
Corpo Sororo é um texto-coro que nasceu de conversas registradas em áudio com mulheres-artistas-mães-filhas.
Foi um aborto sofrido em 2016 que me levou a perceber mais sensivelmente as mulheres, grávidas, mães, e as crianças ao meu redor no circuito das artes. São muitas, ovárias. Na reta final do meu doutorado em 2019, já com uma filha de dois anos em casa, chamei algumas delas para conversar: as que ficaram grávidas comigo: Caroline Valansi, Clara Cavour e Maria Borba; as que engravidaram depois: Duda Moraes, Glaucia Mayer e Maria Baigur; e as que já eram mães: Amanda Bonan, Ana Dalloz, Bianca Tomaselli, Cecilia Cavalieri, Chiara Banfi, Lais Myrrha, Laura Erber, Louise Botkay, Keyna Eleison, Mara Pereira, Natália Quinderé e Paula Huven. Trocamos correspondências de áudio que começaram sem eu mesma saber ao certo a direção. Como eu não queria um formato de entrevista, não preparei roteiro nem perguntas. Enviei falas gaguejadas nas quais, aos poucos, fui formulando um pensamento, que a princípio pairava sobre a relação do trabalho profissional quando atravessado pela maternidade. Conforme fui recebendo as respostas, também fui aprendendo e construindo melhor, não só o meu pensamento e as réplicas, mas a diretriz para aquelas conversas e para a minha vida como um todo. Foi inevitável a inserção de outros tantos tópicos relevantes e concomitantes, como gestação, aborto, parto, morte, puerpério, depressão, cuidado, redes de apoio, feminismos, intelectualidade, amamentação, corpo, sexo, bebês, e tantos mais que poderão ser lidos neste texto específico chamado de Corpo Sororo. Durante três meses, dividimos experiências, memórias e sensações, algumas já muito refletivas e processadas, outras ainda nem compreendidas e que tiveram lugar durante a gravação de nossas falas. Escolhi, então, transcrever os depoimentos e agrupá-los de acordo com as tonalidades e conteúdos, construindo uma colagem que suprimiu os nomes individuais para enfatizar a multiplicidade das subjetividades. Pouquíssimos trechos foram excluídos, com a tentativa de manter o texto mais coeso em suas tantas aberturas. É com muito respeito que incluo parte dos relatos em um corpo coletivo, uníssono, sororo.
Em maio de 2021, para o seminário Desilha, foi criada uma versão sonora. Convidei as coautoras do texto original para escolherem livremente trechos que pudessem ser lidos em até 30 segundos e enviados a mim por mensagens de áudio. O material foi posteriormente trabalhado em uma composição assinada por Nico Espinoza.
Corpo Sororo is a text-chorus that was born from audio-recorded conversations with women-artists-mothers-daughters
It was a miscarriage suffered in 2016 that led me to notice more sensitively the women, pregnant, mothers, and children around me in the art circuit. There are many of them, ovaries. In the final stretch of my Ph.D. in 2019, already with a two-year-old daughter at home, I called some of them to talk: those who became pregnant with me: Caroline Valansi, Clara Cavour, and Maria Borba; those who became pregnant later: Duda Moraes, Glaucia Mayer, and Maria Baigur; and those who were already mothers: Amanda Bonan, Ana Dalloz, Bianca Tomaselli, Cecilia Cavalieri, Chiara Banfi, Lais Myrrha, Laura Erber, Louise Botkay, Keyna Eleison, Mara Pereira, Natalia Quinderé, and Paula Huven. We exchanged audio correspondences that started without me knowing the direction exactly. Since I didn't want an interview format, I didn't prepare a script or questions. I sent stuttered lines in which, little by little, I formulated a thought, which at first was about the relationship between professional work and maternity. As I received the responses, I also learned and built better, not only my thought and the replies, but the guideline for those conversations and for my life as a whole. It was inevitable the insertion of many other relevant and concomitant topics, such as pregnancy, abortion, childbirth, death, puerperium, depression, care, support networks, feminisms, intellectualism, breastfeeding, body, sex, babies, and many more that can be read in this specific text called Sorority Body. During three months we shared experiences, memories, and sensations, some already very reflective and processed, others not yet understood, and that took place during the recording of our talks. I then chose to transcribe the statements and group them according to tonalities and contents, building a collage that suppressed the individual names to emphasize the multiplicity of subjectivities. Very few passages were excluded, in an attempt to keep the text more cohesive in its many openings. It is with great respect that I include part of the accounts in a collective, unison, sorore body.
In May 2021, for the seminar Desilha, a sound version was created. I invited the co-authors of the original text to freely choose excerpts that could be read in up to 30 seconds and sent to me by audio messages. The material was later worked into a composition signed by Nico Espinoza.